A Bahia é o estado em que mais negros morreram vítimas de armas de fogo durante 2014. Segundo dados do Mapa da Violência 2016, entre as pessoas assassinadas em cidades baianas ao longo daquele ano, 3.999 eram negras e 289 eram brancas. Isso significa que para cada pessoa branca assassinada, quase 14 negros foram vitimados por armas de fogo. Em números absolutos, o estado está bem à frente do segundo colocado, o Rio de Janeiro, em que 2.512 negros foram assassinados. Em terceiro lugar, aparece Minas Gerais, com 2.471. O Mapa da Violência é um relatório produzido anualmente com diferentes temas relacionados à segurança pública. Na edição de 2016, foram analisados os homicídios por arma de fogo no país, classificando dados por regiões, sexo, idade e cor das vítimas. As informações foram comparadas às obtidas em 2003 pelo mesmo estudo. O levantamento aponta que, em onze anos, o número de negros mortos cresceu 320%, enquanto o de brancos cresceu 250%: em 2003, foram 1241 e 114 assassinatos, respectivamente. No caso da taxa de morte de negros a cada 100 mil habitantes, a Bahia ocupa o 9º lugar entre os estados, com 33,3. Em primeiro lugar aparece Alagoas, em que o número chega a 71,7. Dentre as 27 unidades federativas, em apenas três se mata mais brancos do que negros: Tocantins, Acre e Paraná. Para o coordenador-geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Marcos Rezende, os números do mapa são “resultado de uma política equivocada de segurança pública, baseada na defesa do patrimônio e não na garantia de direitos das pessoas”. “Quando se abre mão de direitos garantidos pela Constituição para trabalhar apenas no campo do patrimônio, do tráfico, do roubo, se cria uma perspectiva em que aqueles que são mais poderosos precisam de proteção maior. E no país que foi o último a abolir a escravidão, isso significa os brancos, que foram os que mais lucraram com os corpos negros”, avalia o historiador. Para Rezende, a sociedade atual ainda reflete essa realidade racista em que, em comparação com a história, é preciso “proteger os brancos dos negros libertos”. “Onde estão as bases comunitárias? Nos bairros negros e periféricos, para a vigia desses corpos negros, de como sai e como volta, quais linhas de ônibus representam riscos, quem são os agentes que podem morrer”, compara. “Pensa que só morre negros de periferia? E os policiais negros? A vida desses policiais também é menos importante”, lamenta. Para o coordenador do CEN, é preciso modificar o debate de segurança pública, como por exemplo deixar de combater o tráfico na sua “ponta” e buscar os responsáveis pela distribuição das drogas. “Encontram um helicóptero de senador da República com 445 quilos de cocaína e ninguém é investigado. Mas jovem com 20 trouxinhas de maconha vira traficante. Há um encarceramento do povo negro, mas o povo branco é tratado caso a caso. Existe justiça por conveniência. [...] Isso tudo só vai mudar se houver mudança de comportamento da política”, criticou. (Por Rebeca Menezes)