O momento em que uma pessoa é diagnosticada com câncer de próstata pode fazer toda a diferença para o desfecho da doença. Se o tumor for localizado e menos agressivo, as chances de ficar curado chegam a 95%. Agora, uma nova classe de medicamentos está sendo estudada como uma saída para o segundo câncer que mais mata homens no Brasil e um dos mais incidentes. A Bahia foi um dos estados que participou do estudo Aranote, liderado pela Bayer e que avaliou o uso de uma nova droga no tratamento contra o câncer de próstata metástico: a darolutamida. A pesquisa contou com 17 centros participantes em todo o Brasil, sendo que o Instituto Ética, fundado pela Clínica AMO, em Salvador, foi um dos que recrutou o maior número de participantes, em conjunto com o Centro de Pesquisa Clínica da Liga Contra o Câncer, em Natal (RN). “Só nós (do Brasil) colocamos 10% de todos os pacientes do estudo, sendo que tinha 129 estudos. O Brasil está despontando como um local de potencial enorme para recrutar. A pesquisa clínica eleva o padrão de cuidado para um patamar acima da assistência convencional”, diz o médico oncologista Augusto Mota, presidente e diretor-executivo do Instituto Ética. Os resultados mostraram que, quando combinada com a terapia de privação androgênica (ADT, na sigla em inglês), a doralutamida reduziu em até 46% o risco de progressão da doença ou mesmo de morte em decorrência dela. Os dados serão submetidos a autoridades globais de saúde ainda este ano, para que o uso da substância seja ampliado com este objetivo. “Qual é a vantagem desse estudo? Ele traz um medicamento tão potente quanto os outros, mas muito melhor tolerado”, explica Mota. De acordo com ele, a nova molécula se torna atrativa porque o câncer de próstata costuma atingir mais idosos, que têm múltiplas doenças associadas. “Na hora que você toma um medicamento com baixíssimo efeito colateral, vira uma opção mais segura para os pacientes idosos. Ela não vai substituir as outras, mas entra como mais uma opção”, acrescenta. Até outubro, a Bahia registrou 2.122 internações por câncer de próstata, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), com 1.144 mortes – pelo menos três mortes por dia em decorrência da doença. No ano passado, foram 3.103 casos, com 1.588 mortes, enquanto 3.142 internações foram registradas em 2022, com 1.500 óbitos. Na Bahia, identificar o tumor logo tem um aspecto próprio. “A Bahia é um estado negro e nós sabemos que o câncer de próstata em negros tende a ser diagnosticado com a doença mais avançada. É uma doença mais agressiva, inclusive do ponto de vista histológico”, alerta o médico.