“Sempre fui muito apaixonada por ser mãe, por ter filhos, por isso que eu digo graças a Deus eu pude acompanhar e vivenciar a vida das minhas filhas de uma forma tão intensa, e que talvez seja isso que me traga tanta saudade, mas me enche, me preenche tanto, que eu consiga levar uma vida de uma forma, sem cair no baixo astral, né?”, disse Cláudia Repetto.
Pousada soterrada
O casal estava em uma casa na Enseada do Bananal, em Ilha Grande, Angra dos Reis, na virada do ano de 2009 para 2010, com as duas filhas, o tio de Marcelo, Renato, e a mulher dele, Ilza. As fortes chuvas provocaram deslizamentos de terra e uma tragédia que deixou 53 mortos na cidade. Das seis pessoas que estavam na casa alugada por eles, apenas Cláudia e Marcelo sobreviveram.
“Naquele momento exato que a gente estava ali, debaixo da terra, soterrado, nós quatro, eu fiz muita força mesmo pra sair daquela situação. É como se Deus tivesse posto uma mão em cima de mim, me segurado e tivesse falasse: a hora delas chegou, eu vou levar. E a partir daquele momento, no momento seguinte, as pessoas que chegaram pra socorrer a gente até o momento do nascimento da Flora, do Filipe e da Valentina, a gente só recebeu amor”, contou Marcelo Repetto.
Desde a tragédia eles decidiram que a vida seria agradecer e aproveitar cada oportunidade. Ela chegou a engravidar meses depois, mas teve um aborto espontâneo. Eles fazem questão de que as imagens de Geovana e Gabriela estejam sempre presentes.
“Não tenho revolta no meu coração, eu só agradeço mesmo e elas malandrinhas estão juntas, sempre estiveram muito juntas, coladas, e a energia delas, e a força, de falar mãe, pai, vocês vivam bem aí, porque a gente está bem aqui”, disse Cláudia Repetto.
“Se eu tivesse no lugar delas e elas tivessem ficado aqui, o que eu estaria lá em cima pedindo é que elas fossem felizes, então este é o nosso compromisso com a felicidade e a gente foi buscar esta felicidade, vivendo cada dia”, falou Marcelo Repetto.
Recomeço
Quem sugeriu a inseminação artificial foi o amigo João, especialista em reprodução assistida.
“Eles pra mim são o símbolo da superação. Pra mim, eles são duas pessoas que vão mostrar para o mundo que é possível recomeçar uma nova vida”, falou o médico João Ricardo Auler.
A vida recomeçou pra valer para o casal e o trabalho foi multiplicado por três. Flora e Filipe ainda não mamam, mas já começaram a se alimentar com leite materno. A Valentina, que estava um pouco mais frágil deixou de usar o respirador.
Segundo os médicos, os três estão bem, mas vão precisar ficar na UTI neonatal por mais 40 dias para ganhar peso. A expectativa dos pais é poder passar o Natal em casa com as crianças.
“Nossa é só emoção. É muito bom, muito bom, viver isso de novo. Uma questão de você conseguir enxergar novamente e um valor pra sua vida, de levar esta vida que a gente tem aí que é tão maravilhosa, mas da melhor maneira”, disse Cláudia Repetto.
Por: G1