'Brumado e Vitória da Conquista apresentam alto índices de reclamações em abusos nas abordagens policiais', diz ouvidora da DPE

Foto: Luciano Santos l 97NEWS

Durante o evento que comemorou os 10 anos da Ouvidoria Cidadã no Fórum Juíza Leonor da Silva Abreu na última terça-feira (17), um dos assuntos mais abordados pela sociedade civil organizada foi as queixas contra a Polícia Militar, na qual se referem às abordagens policiais em bairros periféricos. Em entrevista ao 97NEWS, a Ouvidora da Defensoria Pública Estadual (DPE), Sirlene Assis declarou que há uma discriminação maior, evolvendo jovens de classe social e negros, o que ele chama de "abordagens preconceituosas". "Quando a gente fala em segurança pública, ela descrimina pobre e preto, então não é a [Polícia Militar], é o sistema, é preciso ter uma atuação do Ministério Público, que muitas vezes arquiva os próprios processos, é preciso ter uma ação da corregedoria que também muitas vezes arquivam os processos. É preciso fazer uma formação para esses policiais, é preciso acabar com atos de resistência, porque ele justifica as mortes dos jovens, que muitas vezes não estão com drogas e nem armas", disse a ouvidora. Ela ainda esclarece que a sociedade não tem que ser tratada como inimiga. "O militarismo foi criado para defender o território do inimigo, a sociedade não é inimiga", diz Assis. A ouvidora do DPE disse ainda ao 97NEWS que todos os depoimentos que foram colhidos na audiência pública, será levado ao conhecimento do Comando da Polícia Militar da Bahia ainda esta semana. "Nós queremos estabelecer um diálogo com o comando, não queremos bater de frente com ninguém". Questionada sobre o número de registros em abusos nas abordagens, a ouvidora relatou que os municípios de Brumado e Vitória da Conquista, tem os maiores índices de reclamação. "Entre os polos que eu passei, Brumado e Vitória da Conquista apresentam os maiores clamores por parte da população. E ainda não temos outros dados como o mapa da violência, mas o que me trouxe aqui foi a sociedade, as mães que nos convocaram", afirma. 

Foto: Luciano Santos l 97NEWS

Já o Defensor Público de Brumado, Everton Teixeira reforçou que há excessos em algumas abordagens. E destacou esse aumento como um reflexo do atual modelo do governo Jair Bolsonaro. "Esse sentimento é pessoal, não posso falar em nome da defensoria pública, que de alguma forma desde a presidência da república, todo aquele discurso, toda aquela questão do pacote anticrime, com a tentativa de impor no código penal uma excludente de ilicitude específica para a atuação do policial, então tudo isso de alguma forma, simbolicamente meio que autoriza sim a polícia a agir com esses excessos. Porque eu tenho certeza que no curso de formação e preparação desses policiais, eles estão instruídos com relação aos direitos humanos sobre uma abordagem correta. E não é isto que nos tem chegado a partir dos relatos da comunidade de Brumado", disse o defensor. Um cidadão que preferiu se manter no anonimato, mas que usou o microfone do evento para relatar uma agressão sofrida por ele em uma abordagem policial,  declarou que é preciso haver uma auditoria interna na Corporação da Polícia Militar. "Isso existe e infelismente não são fatos isolados, porque isso vem acontecendo há muitos anos em nossa cidade, e continua acontecendo. Então é um fato preocupante porque a gente não percebe uma preocupação maior da liderança dessas corporações em tentar contrapor ao que vem sendo falado sobre eles. Porque eu acho o seguinte, se eles tem razão. Então coloca-se qual é a razão? O cidadão espera uma polícia que venha resolver os problemas da sociedade e, não uma polícia matadora", comenta o homem. Ele ainda fez citação em seu depoimento de que a Polícia tem a função de tirar os marginais da rua, mas ao mesmo tempo a sociedade não quer um bandido vestido de Polícia. "É porque eles tem a função de resolver os problemas, com investigação, se for preciso que haja a detenção, que se faça justiça. Não é chegar nos lugar e serem juízes e executores, e a função deles não é esta. Porque existem os juízes, que competem à eles julgar e condenar. Não é o policial chegar matando", relata o cidadão.