A universalização do saneamento básico traria ao país benefícios econômicos e sociais de R$ 537,4 bilhões em 20 anos, segundo um estudo do Instituto Trata Brasil obtido pelo G1 e divulgado nesta quarta-feira (12). Isso quer dizer que os ganhos com a expansão dos serviços de água e esgoto no Brasil são maiores que os custos para investir no setor. Os setores mais beneficiados são os de saúde, educação, turismo, emprego e imobiliário. Segundo os dados de 2015 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), apenas 50,3% dos brasileiros têm acesso à coleta de esgoto, o que significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizam medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios. Quanto ao acesso a água, 34 milhões de brasileiros seguem sem conexão com o sistema. De acordo com o estudo, seriam necessários R$ 317 bilhões em 20 anos para que toda a população tenha acesso aos serviços de água e esgoto. Considerando que esse acesso significa um aumento das despesas das famílias, os custos totais chegam a R$ 552,1 bilhões. Quanto aos benefícios, que envolvem desde a redução dos custos com a saúde até a renda gerada pelo aumento de operação da cadeia produtiva do saneamento básico, os valores chegariam a quase R$ 1,1 trilhão. No final, o balanço positivo é de R$ 537,4 bilhões para o país.
Universalização do saneamento traria R$ 537 bi ao país em 20 anos, diz estudo
Segundo Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, os ganhos da universalização do saneamento são amplos por se tratar de um investimento transversal - ou seja, que envolve diversas áreas da sociedade. Os maiores retornos viriam das próprias cadeias produtivas do saneamento: a renda gerada pelo investimento direto no setor (ampliando redes, construindo estações de tratamento, etc.) seria de R$ 443,1 bilhões, e a renda gerada pelo aumento de operação das empresas responsáveis pelo saneamento (contratando mais empregados, aumentando a compra de produtos químicos, etc.) chegaria a R$ 257,9 bilhões. Existem, ainda, os efeitos indiretos do saneamento. Por exemplo, com a universalização, o número de trabalhadores afastados do trabalho por motivos de saúde cairia de 6,4 milhões em 2015 para 5,3 milhões em 2035. Além disso, o estudo prevê uma redução das despesas com internações por infecções gastrointestinais na rede hospitalar do SUS. Por isso, em 20 anos, considerando o avanço gradativo do saneamento, a economia na área de saúde alcançaria R$ 7,3 bilhões. O economista Fernando Garcia, consultor do Trata Brasil, também destaca o aumento da produtividade dos trabalhadores. “Conseguimos mostrar estatisticamente que os trabalhadores que moram em casas sem acesso a água e esgoto têm uma menor produtividade no trabalho, pois se afastam mais por questões de saúde. Com esses afastamentos, acabam sendo demitidos e conseguindo um emprego pior”, afirma. Se todas as moradias das áreas urbanas do país tivessem condições sanitárias adequadas, a renda média do trabalho seria 1,1% maior. Os efeitos sobre a valorização imobiliária também são considerados no estudo. Com o acesso ao saneamento, as residências teriam uma valorização média de 12,8%. A previsão é que a universalização traga acesso a água tratada a mais de 33,1 milhões de moradias, e coleta e tratamento de esgoto a 49,1 milhões de casas até 2035. Quanto ao turismo, uma das principais consequências da falta de saneamento é a das praias poluídas, segundo Garcia. “O setor vai afastando cada vez mais a estrutura turística da poluição. Então o que acontece é que hotéis vão sendo afastados dessas praias e dos centros das cidades. Isso aconteceu no Rio, no litoral de São Paulo e em capitais do Nordeste, como Salvador e Recife.” O estudo estima um ganho de R$ 24,5 bilhões com a valorização ambiental derivada do acesso ao saneamento básico. Segundo Garcia, isso significa uma renda maior para os trabalhadores do setor de turismo, lucros para as empresas e impostos para os governos. O prazo de 20 anos estabelecido no estudo é baseado no Plano Nacional de Saneamento Básico, que foi elaborado e lançado pelo governo federal em 2014 e que propõe metas de investimento para o setor para duas décadas. Por isso, o estudo considera o período de 2015 a 2035 para fazer o balanço da universalização. Segundo Édison Carlos, porém, se os investimentos no setor continuarem seguindo o mesmo ritmo dos últimos 10 anos, o país precisaria de pelo menos o dobro do tempo para atingir a universalização. Por isso, segundo ele, é importante demonstrar o quanto investir mais em saneamento pode ser rentável. “O saneamento, apesar de ser importante, só acontece com decisões políticas. Um prefeito sempre verifica o que dá mais retorno para a cidade e para ele do ponto de vista eleitoral, e muitas vezes encara o saneamento como uma obra que só gera custos. Tentamos quebrar esse paradigma mostrando que o setor talvez seja o melhor investimento que a cidade pode fazer”, diz. Para atingir a universalização em 2035, o país precisaria investir R$ 15,8 bilhões ao ano. Nos últimos dez anos, a média foi de R$ 9,1 bilhões anuais. “Dá para aumentar [esse investimento]. Tem recursos do fundo de garantia, do BNDES ou mesmo recursos privados. Comparado a questões habitacionais ou obras de infraestrutura, estamos falando de pouco dinheiro”, diz Garcia. Além disso, Édison Carlos ressalta que os ganhos são permanentes - mas desde que haja uma manutenção do sistema. “Os ganhos são para a eternidade, mas a cidade precisa manter seu sistema funcionando. Aí vemos não só os ganhos da universalização, mas os que acontecem depois, como uma nova geração mais produtiva, com melhor educação e mais saúde”, afirma. Para isso, segundo ele, os esforços devem ser coletivos. “Os prefeitos têm um papel fundamental, pois o avanço mais rápido do saneamento passa pelo município. Os governadores também são importantes por causa das empresas operadoras, mas, logicamente, o governo federal é a grande locomotiva, é de onde vem a maior parte dos recursos. Ele tem o poder de acelerar os investimentos e a obrigação de garantir ao setor os recursos para motivar as cadeiras produtivas.”