Se os problemas nos hospitais assustam pacientes, a situação é ainda pior na formação dos profissionais que atendem nessas unidades. A situação crítica na infraestrutura do Departamento de Ciências da Vida da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) motivou os estudantes a realizarem protestos na manhã desta segunda-feira (22). Os estudantes de Medicina da universidade fizeram uma caminhada para reivindicar concurso para contratação de professores, laboratórios e vínculos para garantir a prática dos estudantes em hospitais. Para o curso de Medicina, os estudantes não têm laboratórios específicos para as práticas médicas e usam os laboratórios de outros cursos do departamento. “Do jeito que está hoje, se depender apenas da Uneb, do governo do estado, eu não acredito que vou ter uma boa formação. Não tem condições. Vou ter que correr muito atrás e precisar brigar muito por isso daí. Não vejo perspectiva de melhoria”, afirmou o estudante do 6º semestre Vinícius de Jesus, 27 anos. Apenas um ambulatório de pediatria começou a ser construído, mas não chegou a ser concluído. O local é insalubre e fica aberto. Dentro, formigas e aranhas se acumulam nas extremidades das paredes e embalagens plásticas ficam espalhadas pelo chão. Infiltrações nas paredes e falta de iluminação também impedem que o atendimento às crianças seja realizado. “A gente acaba tendo muitas aulas nos laboratórios de enfermagem, a gente tem laboratórios que são de uso comum, como o laboratório de microbiologia, de parasitologia, de hematologia, mas que a gente usa mais nos dois primeiros anos. Laboratório de patologia, infelizmente a gente não tem e é uma coisa que deveria ter.
Estudantes da Uneb reclamam de infraestrutura: 'não tem condições'
Os outros cursos também tem matéria de patologia, mas a patologia médica é muito mais específica”, completa Vinícius. Além disso, sem os professores, os estudantes não podem dar continuidade ao curso e seguir para a reta final, quando acontece o internato – parte prática do curso onde os estudantes fazem rodízios em hospitais. A situação preocupa a estudante Clara Dominguez, 26, que faz parte da primeira turma do curso. “Sem isso a gente não consegue concluir o curso. A primeira turma sempre enfrenta algumas dificuldades e eu já esperava por isso. Por exemplo, todo semestre, no caso da gente que é primeira turma, a contratação dos professores é gradual. Dessa vez, a gente está impedido de fazer qualquer concurso para professor efetivo”, afirmou.Os estudantes estimam a necessidade contratação de 20 professores, sendo 12 professores efetivos para o internato e oito professores para a graduação. “Só na minha turma a gente está sem três matérias, fora os outros semestres. antes, as vezes faltava em um semestre, mas conseguia suprir no outro”, contou Clara.
Parcerias
Além de não ter professores, os estudantes reclamam da falta de vínculos da universidade com instituições de saúde. Em curso existe uma negociação com o Hospital Roberto Santos, que ainda não foi concluída.“Lá é o divisor de águas dos curso e a Uneb não tem vínculos firmados. Existe um acordo em negociação com Roberto Santos, mas que não será o suficiente para nós, porque a gente entender que o estudante tem que passar por vários ciclos, vários rodízios em várias unidades”, reclama o estudante e presidente do Centro Acadêmico do Curso de Medicina, Marco Aurélio Guimarães, 25.Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Administração (Saeb) informou que “as vagas de estágio serão garantidas aos alunos por meio de acordo de cooperação técnica entre a Uneb e o Hospital Geral Roberto Santos”.No decorrer do curso, sem os laboratórios, os alunos contam com a ajuda de professores para conseguir estágios e outras práticas para complementar a formação acadêmica. “Depende muito mais de jeitinho do professor, mas realmente acaba não tendo algo oficial, daí o motivo dos alunos de Medicina estarem tão angustiados por não ter perspectiva de tão cedo melhorar”, explica o estudante Vinícius de Jesus.
Outros cursos
Os problemas de infraestrutura não são exclusivos do curso de Medicina. Alunos de outros cursos do DCV também fizeram uma manifestação na porta da universidade na manhã desta terça. Eles reclamam a ausência de aulas práticas, que foram suspensas após os professores terem o benefício de insalubridade cortado.“O problema em maior gama no DCV é estrutural. É uma dificuldade muito grande para os estudantes conseguirem fazerem os cursos devido a falta de uma estrutura adequada aos laboratórios”, explica a estudante de Fisioterapia do 6º semestre, Larissa Almeida, 21.A estudante elenca alguns problemas como a falta de acessibilidade nos prédios e o alagamento do laboratório de fonoaudiologia. “Os equipamentos ainda não foram ligados porque não sabemos se haverá algum dano maior”, conta. Além disso, também falta professor para terminar matérias específicas nos cursos.Já o estudante do 8º semestre de enfermagem Jonatan Botelho afirma que as condições atrapalham da formação. “Os laboratórios são sucateados. Enfermagem tem dois laboratórios que não atendem às necessidades e o profissional formado pela universidade pública precisa ter formação. Não é somente nos hospitais que ele vai se formar, é a prática clínica dentro da sala de aula”, diz.