Grupo de professores, pesquisadores e profissionais da área de games publicam carta aberta sobre fala do presidente Lula

Foto: Reprodução

Na última terça-feira (18), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cometeu um deslize ao associar os jogos eletrônicos a episódios violentos envolvendo jovens. Motivados pela fala do político, um grupo de pesquisadores, professores, coordenadores de curso e desenvolvedores de jogos digitais no Brasil divulgaram uma carta aberta para desmistificar a crença popular de que jogos digitais são responsáveis por comportamentos violentos. Ao contrário, a carta enfatiza que jogos digitais podem trazer benefícios à sociedade, inclusive sendo utilizados como mediadores de ensino e aprendizagem. O objetivo da carta é destacar que agências de fomento estaduais e federais têm investido em projetos de jogos digitais voltados para a educação, com resultados positivos comprovados por pesquisas acadêmicas. O grupo que assina o documento ainda enfatiza que os jogos digitais podem ser espaços para o desenvolvimento de habilidades como a criatividade, o pensamento crítico, a resolução de problemas e o trabalho em equipe. Segundo a carta, pesquisas realizadas no Brasil e no exterior mostram que jogos digitais podem ser aplicados em diversos contextos educacionais, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior, e em disciplinas como Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa. Confira a carta na íntegra abaixo:

À comunidade brasileira,

Nós, coordenadores e professores de Cursos de Games, graduações em licenciaturas, desenvolvedores e pesquisadores transdisciplinares de jogos digitais, viemos através desta carta aberta à comunidade brasileira esclarecer e nos posicionarmos frente às declarações recentes do Excelentíssimo Presidente da República, Senhor Luiz Inácio “Lula” da Silva, sobre jogos digitais não educarem e provocarem violência. Os jogos digitais são artefatos culturais complexos e diversos, e uma longa trajetória de pesquisa na área demonstra que a associação simplória entre games e violência é não apenas equivocada, mas possui o potencial de distorcer uma discussão séria sobre as raízes da violência. Gostaríamos de esclarecer que as agências de fomento federais, como FINEP, CAPES e CNPq,
assim como as fundações de apoio à pesquisa dos estados e secretarias de educação e cultura dos estados, vêm financiando tanto a pesquisa como o desenvolvimento de jogos digitais para educação ao longo dos últimos 20 anos. Inúmeros jogos com fins educativos, culturais, artísticos e poéticos têm sido desenvolvidos com base em pesquisas acadêmicas, com a finalidade de mediar o processo de ensino-aprendizagem de diversas disciplinas. Tais agenciamentos sociotécnicos são capazes de promover o engajamento e o interesse tanto dos estudantes como dos professores, além de contribuírem para o desenvolvimento de habilidades como a resolução de problemas e o pensamento crítico. Assim como na Educação, História, Geografia, Filosofia, Exatas e áreas biológicas, há diversas outras aplicações para os jogos, como aqueles voltados a várias áreas da Saúde. Jogos digitais podem ser utilizados como recursos valiosos em tratamentos psicológicos, fisioterapêuticos, como meios de promoção da saúde bucal e nutricional, bem como, em áreas de promoção da cultura popular, promoção dos povos originários, dentre outras possibilidades. E, nesse sentido, os jogos digitais dão uma mostra cabal de que são meios que permitem proporcionar melhor qualidade de vida às pessoas, inclusive respeitando os rigorosos padrões éticos aplicados ao desenvolvimento de produtos e serviços de saúde. Além disso, as Universidades têm desempenhado um papel fundamental na formação de profissionais para a indústria de jogos digitais, bem como para o ensino e a pesquisa na área. Os cursos de graduação e pós-graduação em jogos Digitais e áreas afins formam profissionais altamente capacitados para atuarem no desenvolvimento de jogos educativos e na indústria de games. Se levarmos em consideração apenas os cursos de graduação, são mais de 280 em instituições de todo o Brasil, que vêm formando milhares de profissionais capacitados ao longo do tempo para atuarem nessa indústria. Destacamos que o primeiro curso nesta área iniciou suas atividades em 2003, portanto, completando 20 anos da formação em nível superior no Brasil e esse é um dado significativo, já que cursos de graduação, assim como os de pós-graduação, passam por avaliações rigorosas conduzidas por instâncias governamentais, mais uma vez corroborando ser o desenvolvimento de jogos digitais uma atividade pensada em termos legais, morais e éticos. Ao longo desses 20 anos, muitos profissionais de diversas áreas vêm empreendendo esforços como docentes para proporcionar formação de qualidade e aumentar a visibilidade da indústria brasileira de jogos digitais. Por fim, gostaríamos de reforçar que a afirmação do Presidente Lula sobre jogos digitais não educarem e provocarem violência vai contra as pesquisas e os dados que existem sobre o tema, que vem sendo estudado há décadas em instituições brasileiras e de outros países. Destacamos que relacionar os jogos digitais com comportamentos violentos, se constitui em uma leitura reducionista e de causa e efeito que não se comprova, sem considerar que a violência é um epifenômeno que exige uma análise mais complexa considerando distintos fatores, entre eles: mitificações nacionais, ideologias fascistas, questões sociais, econômicas, culturais, psicológicas, entre outras. Nesse sentido, exortamos a comunidade intelectual, sócio-política e cultural a participar do debate no sentido de conduzir uma adequada discussão do tema dos jogos digitais e, igualmente buscar as reais causas da endemia da violência no Brasil atual em suas verdadeiras causas, as quais radicam em bases sócio-culturais que residem na negação das diferenças humanas, na exacerbação da diferença social, na promoção do ódio a partir de ideologias intolerantes e fascistas, machistas, sexofóbicas, etc. Nesse sentido, cremos estar no devido dever e direito de exortar ao nosso Excelentíssimo Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, a entrar no diálogo conosco e ter, com isso, a possibilidade de rever e pensar junto conosco, fraterna e democraticamente, a sua anterior posição, isto no sentido de construirmos juntos, cada vez mais uma sociedade aberta, fraterna e democrática. É importante que a sociedade esteja atenta às possibilidades educacionais oferecidas pelos jogos digitais e que os governantes apoiem o desenvolvimento e o uso dessas tecnologias como espaços ricos de sentidos para o aprendizado.

Assinam esta carta:

Pesquisadores, coordenadores e professores de licenciaturas em História, cursos de Games e desenvolvedores:

Adriano Willian da Silva Viana Pereira- Professor de Física do IFPR campus Curitiba. e Diretor-geral do IFPR- campus Curitiba.
Alan Henrique Pardo de Carvalho - Docente e Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais da Fatec São Caetano do Sul e da Faculdade Impacta. Docente no Bacharelado em Jogos Digitais do Centro Universitário Senac (SP).

Andrea Volante Costa - Docente, Faculdade Impacta, disciplina de Sociedade e Sustentabilidade. Angela Tomiko Ninomia - Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU Breno José Andrade de Carvalho - Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais, professor do Mestrado em Indústrias Criativas e assessor do Núcleo de Inovação Tecnológicas da Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP.

Carmen Lúcia Castro Lima - Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Docente do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais Carlos Alberto Paiva - Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais da Fatec Carapicuíba-SP e Mestrando em Pesquisa de Jogos Digitais na Educação pela Escola Politécnica da USP.


Carolina Pedroza de Carvalho Garcia- vice-Coordenadora da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais - UNEB.

Christiano Britto Monteiro dos Santos - Prof. Adjunto de Ensino de História da Universidade Federal Fluminense. Coordenador do grupo de produção de roteiros G.A.M.M.E - Grupo de Análises de Metodologias Midiáticas para a Educação.


Cristiano Max Pereira Pinheiro - Coordenador do Mestrado em Indústria Criativa da Universidade Feevale. Docente da Graduação em Jogos Digitais. Coordenador do Laboratório de Criatividade da Universidade Feevale, e do Projeto de Implantação do Cluster de Jogos Digitais do RS.

Delmar Galisi Domingues - Coordenador do Curso de Graduação de Design de Games da Universidade Anhembi Morumbi Denise Maria Vecino Sato - Coordenadora do curso Técnico em Programação de Jogos Digitais do Instituto Federal do Paraná (IFPR) - Campus Curitiba.

Dulce Márcia Cruz - Professora do Departamento de Metodologia de Ensino e da Pós-graduação em Educação e líder do Grupo Edumídia/CNPq, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Fernando Silvio Cavalcante Pimentel – Professor no Programa de Pós-graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas e líder do Grupo de Pesquisa Comunidades Virtuais Ufal.

Felipe F. Costa, Coordenador do Curso de Jogos Digitais do Centro Universitário IESB de Brasília.

George Leonardo Seabra Coelho - Coordenador do Programa de Pós-graduação em História das Populações Amazônicas (UFT) e Líder do Grupo de Pesquisa em Mídias, Tecnologias e História (MITECHIS/CNPq).

Guilherme Orlandini - Docente de diversas disciplinas no curso de Tecnologia em Jogos Digitais da FATEC Ourinhos. Mestre em Ciência da Computação.

Hellen Christina Gonçalves - Docente do curso Técnico em Programação de Jogos Digitais do Instituto Federal do Paraná (IFPR) - Campus Curitiba.

Irlan Santos Nascimento - CEO e Líder GameDev na Bragi Estúdios.

Jesse Nery Filho - Coordenador do curso de Licenciatura em Ciências da Computação do Instituto Federal Baiano - Campus Senhor do Bonfim. Docente de Jogos Educacionais
(IFBAIANO).

Luís Carlos Petry - Professor aposentado da PUC-SP. Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, Criador do Curso de Jogos da PUC-SP, Consultor extrangeiro da FCT (Portugal). Pesquisador Líder-Sênior do Projeto da Política de Jogos Digitais do BNDS e Consórcio de Universidades.

Luiz Adolfo Andrade - Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Luiz Cláudio Machado - Docente e Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Jogos Digitais do Campus Lauro de Freitas do Instituto Federal de Educação , Ciência e Tecnologia
- BAHIA.

Lynn Alves - UFBA/IHAC - Coordenadora da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais -UFBA Mônia Naomy Nakagawa - Vice-coordenadora do curso Técnico Programação de Jogos
Digitais do Instituto Federal do Paraná (IFPR) - Campus Curitiba.

Paulo Marcelo Spínola Ramos Pereira e Pereira - Professor na Graduação Tecnológica em Jogos Digitais (UNEB) e mestrando em Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC).

Rafael Baptistella Luiz - Mestre em Design na linha de Jogos pela UFPR, docente da disciplina de Design de Jogos na Universidade Positivo, Curitiba, PR.

Rafael Marques de Albuquerque - Professor do curso de design de jogos na Escola Politécnica da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).

Rafaella Moraes B Vieira - CPO e Líder Game Designer na ERA Game Studios.

Reinaldo A. O. Ramos - Docente e Coordenador do Bacharelado em Jogos digitais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e ESPM.

Renan Caldeira Menechelli - Docente, Coordenador EaD e Coordenador do curso de Jogos Digitais do UNISAGRADO (Bauru/SP), Mestre em Ciências (USP/São Carlos), Especialista em Tecnologia Java (UTFPR/Cornélio Procópio) e Bacharel em Ciência da Computação (UNISAGRADO/Bauru).

Sérgio Roberto Delfino - Docente no curso de Tecnologia em Jogos Digitais da Faculdade de Tecnologia de Ourinhos.

Suiane Costa Ferreira - Coordenadora da Rede de Pesquisa Comunidades Virtuais - UNEB

Tharcisio Vaz de Moraes - UNEB/UFBA - Professor na Graduação Tecnológica em Jogos Digitais (UNEB) e Doutorando em Composição Musical para Games (UFBA)

Tiago Vinícius Ficagna - Docente e pesquisa da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí)

Willians Monteiro da Silva, Docente de diversas disciplinas no curso de Jogos Digitais da FATEC Antônio Russo - São Caetano do Sul. Especialista em desenvolvimento de software na Indústria.

CONTINUE LENDO