Exército vacinou agentes da Abin secretamente e sem aval do programa de imunização

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O Exército atuou diretamente na vacinação secreta de 130 servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que foram imunizados contra a Covid-19 sem o aval de técnicos do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. O Ministério Público Federal constatou que uma lista de nomes sigilosa foi enviada diretamente ao Exército para que os funcionários da Abin fossem vacinados com todos os militares da ativa, imunizados de forma privilegiada em Brasília. As informações são da Folha de S. Paulo. A vacinação ocorreu, conforme documentos reunidos pelo MPF em inquérito civil público instaurado em 25 de junho, que investiga o privilégio dado aos militares das Forças Armadas, a forças de segurança e aos agentes da Abin em Brasília. Os integrantes desses grupos são suspeitos de furar a fila de vacinação, desrespeitando as normas técnicas editadas pela equipe do PNI para organizar um fluxo de imunização de grupos prioritários diante da falta de doses em todo o país. A procuradora da República Ana Carolina Roman questinou, em reunião virtual no dia 1º de julho, duas técnicas do PNI, Thaís Minuzzi e Caroline Gava, assim como Laurício Monteiro Cruz, então diretor do Departamento de Imunização do Ministério da Saúde. Cruz foi demitido do ministério uma semana depois, suspeito de participação em um mercado paralelo de vacinas junto à pasta, investigado pela CPI da Covid no Senado. Gava disse que não foi contestada pelo diretor do Departamento de Imunização na época. A técnica também disse que tiveram esclarecimentos do governo do Distrito Federal sobre a vacinação, além de confirmar que esses profissionais por não estariam contemplados, mas não soube informar se houve a vacinação prioritária dos mesmos. Em ofício ao MPF duas semanas antes, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, apontou as explicações do comitê gestor da vacinação contra a Covid-19 para a imunização de agentes da Abin, afirmando que foi considerado o critério de exposição de risco epidemiológico decorrente do trabalho dos servidores. O documento confirma que a vacinação ocorreu, na Praça dos Cristais em Brasília, em uma parceria entre a secretaria e o Comando Militar do Planalto, do Exército. Para a procuradora Ana Roman, a vacinação dos agentes desrespeitou normas técnicas do Ministério da Saúde que estabelecem que são grupos prioritários militares das Forças Armadas e forças de segurança que estão na linha de frente do combate à pandemia. Em uma reunião virtual feita em 29 de junho, Roman questionou a enfermeira Christiane Braga de Brito, subsecretária de Planejamento em Saúde do DF, sobre as razões para servidores da Abin serem incluídos como forças de segurança. A subsecretária disse que a decisão havia sido corroborada pelo Ministério da Saúde, o que não foi confirmado pela equipe técnica do PNI dois dias depois. Ao MPF, após um pedido de explicações, o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, afirmou que a vacinação dos agentes atendeu a uma "iniciativa exclusiva" da Associação Nacional dos Oficiais de Inteligência. Ramagen, assim como os servidores da Abin, justificaram a vacinação afirmando essencialidade da atividade de inteligência.