Mineração de urânio da INB traz à tona memória de contaminação nos municípios de Caetité e Lagoa Real

Foto: Reprodução l Flavio Florido

Sem exploração na área das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), localizada no município de Caetité, a 100 km de Brumado, a notícia de que o governo federal liberou a exploração no local, que estavam paralizadas há cinco anos, trouxe aos moradores da cidade, mais uma vez à memória, medo e pavor. Segundo o governo federal, seis novas usinas serão construídas no país até 2050, e os investimentos passam de R$ 30 bilhões. Mesmo sendo um investimento energético para o Brasil, autoridades denunciam casos de câncer, principalmente na região de Caetité e Lagoa Real, provocados pelo contato com a radiação e danos ainda pouco conhecidos ao meio ambiente. Segundo a reportagem da BBC News Brasil, entre 2000 e 2009, houve pelo menos cinco acidentes que contaminaram parte dos rios e solo na região de Caetité. A retomada da mineração de urânio pela INB no município ainda precisa passar por etapas do licenciamento da CNEN, além de uma licença do Ibama, para que a extração de urânio recomece plenamente na mina do Engenho. Da liberação no dia 7 para cá, foi autorizada uma operação na qual o urânio já extraído é quebrado e organizado em pilhas, de onde é retirado um líquido pastoso que depois segue às etapas de enriquecimento nuclear. A empresa ocupa uma área de 1,7 mil hectares – mais de 2 mil campos de futebol – e tem 99 mil toneladas de urânio em reservas. Entre 2000 e 2014, a INB extraiu 3.750 toneladas de minério de urânio, altamente radioativo, da mina de Cachoeira, também parte do complexo de Caetité e hoje inativa. O urânio retirado do solo pela INB é concentrado em um formato líquido, chamado de licor, e depois enriquecido, tornando-se um pó de tom amarelo vivo chamado “yellow cake”. Depois, este é transportado em caminhões até Salvador, que posteriormente é enviado em navios para Canadá e Holanda, onde cumpre outras etapas do enriquecimento.

Foto: Divulgação

Conforme a BBC News Brasil, os trabalhos da INB em Caetité são marcados por críticas, denúncias e processos em relação a sequelas tanto na população quanto no meio ambiente. Próximas às suas instalações ficam pequenas comunidades agrárias como Barreiro, Juazeiro e Maniaçu, além do Quilombo de Malhada. Os estudos de impacto ambiental previram que haveria contaminação de mananciais subterrâneos, assoreamento dos rios por causa do depósito de sobras da mineração e inviabilidade do uso da água em pontos como o Córrego do Engenho. Quando a mineração de urânio começou em Caetité, todos os aspectos do cotidiano dos pequenos agricultores e moradores do entorno da usina mudaram radicalmente. No total, o Movimento Paulo Jackson – organização civil que acompanha o caso desde 2000, batizada em nome de um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores, nascido em Caetité – estima que 12 mil pessoas vivam em áreas diretamente afetadas pelas operações da INB em Caetité, Lagoa Real e também no município de Livramento de Nossa Senhora.