EUA: Casos de abusos cometidos por 'padres' em menores chocam o mundo

O arcebispo de Washington, Donald Wuerl, foi acusado de ajudar a ocultar abusos (Foto: Getty Images)

Um relatório da Suprema Corte da Pensilvânia divulgado na última semana chocou o mundo. O documento começa com a seguinte declaração: "Nós, membros deste grande júri, precisamos que vocês ouçam isso. Talvez alguns de vocês tenham escutado algo parecido antes... Mas nunca nesta escala". E segue: "Para muitos de nós, esse tipo de histórias ocorreram em outro lugar, em algum lugar distante. Agora sabemos a verdade: ocorreram em todas as partes". Essas histórias são as de mais de mil menores de idade possivelmente mais, que foram abusados sexualmente ao longo de 70 anos por cerca de 300 padres de seisdioceses do estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Esses abusos ocorreram, segundo detalha o relatório divulgado pela Suprema Corte, "enquanto funcionários eclesiásticos tomavam medidas para encobri-los". O documento detalha seis casos presentes em um documento de 900 páginas do júri da Pensilvânia. O primeiro documento diz que até exames de câncer eram disfarçados para os abusos. Segundo o relatório, "um padre em Erie, Chester Gawronski, acariciava sexualmente as crianças e dizia que o fazia para "checar se tinham câncer". Em 1997, o padre confessou voluntariamente ter cometido abusos sexuais em múltiplas ocasiões e, ainda assim, de 1997 a 2002, ele permaneceu na ativa no clero e repetidamente foi transferido para outras paróquias. No segundo caso, um dos padres, Michael Lawrence, disse ao monsenhor Anthony Muntone: "Por favor, me ajude, abusei sexualmente de uma criança". Muntone registrou a confissão em um memorando confidencial escrito à mão. E, mesmo depois do registro, a diocese afirmou: "Essa experiência não será necessariamente um trauma terrível para a vítima". O padre Lawrence permaneceu na ativa na igreja por anos sob o comando de três diferentes bispos. No terceiro caso, o um dos absurdos mairores, o padre Raymond Lukac engravidou uma jovem de 17 anos, falsificou a assinatura de um pastor em uma certidão de casamento e se divorciou pouco depois de ela dar à luz. 

O ex-arcebispo de Washington, Theodore McCarrick, renunciou após acusações de que abusou de um menor nos anos 1970 (Foto: Getty Images)

Apesar de ter feito sexo com uma menor de idade, tido um filho com ela, se casado e divorciado, foi permitido que Lukac permanecesse na igreja. No quarto abuso divulgado no relatório, o padre Joe Pease abusou repetidamente de uma criança quando ela tinha entre 13 e 15 anos. Funcionários da diocese encontraram em uma ocasião a vítima nua na casa onde o pároco vivia, mas Pease disse que era uma "brincadeira". O padre teve de fazer tratamentos indicados pela igreja, e foi permitido que ele voltasse à ativa por mais sete anos. No quinto abuso, um grupo de ao menos "quatro padres predadores" teria estabelecido um vínculo emocional e abusado sexualmente e de forma violenta de menores. Uma das crianças teria sido forçada a ficar nua em uma cama e a posar como Cristo em uma cruz. Os padres fotografaram a vítima e incluíram essas imagens em uma coleção de pornografia infantil. Para facilitar a identificação das vítimas, eles davam presentes às suas crianças favoritas: cruzes de ouro que elas deveriam usar no pescoço - esses itens indicavam que as vítimas estavam sendo preparadas para serem abusadas. E finalizando, o sexto caso destacado no relatório, o padre Thomas Skotek abusou de uma jovem e a engravidou. Ele mesmo providenciou depois um aborto para ela. Estes são só alguns dos muitos exemplos incluídos no documento. E, como destacou o procurador-geral do estado, Josh Shapiro, ao apresentar o documento, os casos "demonstram claramente que houve um abuso corrupto e desmedido". "O padrão foi de abuso, negação e ocultação", afirmou Shapiro. E o pior, destacou ele, é que ainda que a lista de padres que cometeram abusos seja longa, "não acreditamos que o relatório abrange todos". "Temos certeza de que muitas vítimas mais nunca se apresentaram para testemunhar", afirmou o procurador.