Outro fator identificado pela prática clínica é o fato de as pessoas acreditarem que a incontinência urinária é algo que acontece, de forma normal, com o envelhecimento, "o que não é verdade", acentuou Márcio Averbeck. Ele deixou claro que "em qualquer etapa da vida, a incontinência urinária atrapalha muito a qualidade de vida das pessoas". Acrescentou que, muitas vezes, o problema acaba levando as pessoas que sofrem dessa doença à depressão e até ao suicídio.
Um estudo europeu demonstrou que idosos que levantam duas ou mais vezes à noite para urinar, ou seja, que podem ter a bexiga hiperativa - uma das causas da incontinência urinária, têm risco aumentado de quedas e fraturas e mortalidade maior do que a população em geral, relatou o médico. "A incontinência urinária gera um prejuízo importante na qualidade de vida do indivíduo", frisou.
O terceiro fator que leva as pessoas a não procurarem auxílio médico é o desconhecimento sobre as modalidades de tratamento. Hoje, com a evolução técnica, Averbeck assegurou que as cirurgias, quando necessárias, são minimamente invasivas. Existem três tipos de incontinência urinária.
Uma delas é a incontinência por esforço, que ocorre quando a pessoa tosse, espirra, levanta peso ou ri. A incontinência urinária de urgência é um sinônimo de bexiga hiperativa e ocorre quando há uma súbita vontade de urinar e a pessoa não consegue chegar a tempo ao banheiro. Um terceiro tipo de perda involuntária de urina mistura esses dois sintomas.
Além desses tipos, existe a incontinência por transbordamento, que afeta com mais frequência homens que têm aumento da próstata e apresentam dificuldade de esvaziar a bexiga. Em consequência dessa dificuldade, a bexiga começa a transbordar e ocorre um gotejamento contínuo de urina. Esse tipo de incontinência é muito perigoso, disse o urologista, porque pode indicar insuficiência renal aguda.
Averbeck lembrou que, a partir de janeiro deste ano, as pessoas que sofrem de incontinência urinária contam com dois novos procedimentos para o tratamento, incluídos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para 2014. Um deles é o implante do esfíncter urinário artificial em homens que sofrem de incontinência urinária, após a remoção cirúrgica da próstata. "A gente estima que entre 5% e 10% dos homens que fazem a cirurgia radical da próstata vão apresentar incontinência urinária persistente, com necessidade de tratamento. A gente sabe que esse esfíncter urinário artificial beneficia esses homens". O médico lembra que, no Brasil, o câncer mais frequente nos homens é o da próstata.
Outro tratamento que entrou no rol da ANS é o implante de um marca-passo da bexiga, chamado tecnicamente de neuromodulação sacral. Ele consiste na estimulação elétrica do nervo da pelve para melhorar o sintoma de urgência em pacientes que têm incontinência urinária de urgência. Cerca de 18% da população brasileira apresentam sintomas de bexiga hiperativa. No Rio Grande do Sul, que tem uma população de 10 milhões de pessoas, são 2 milhões de pessoas que sofrem os sintomas da bexiga hiperativa. O implante do marca-passo é importante para os pacientes que não respondem aos tratamentos mais conservadores, apontou.
O urologista da SBU disse ainda que menos de um terço dos brasileiros que sofrem de incontinência urinária procura ajuda médica e, dentre os que procuram auxílio clínico, 70% relatam que o tratamento feito não foi suficiente para resolver o problema. "Isso significa dizer que hoje as pessoas não conhecem e não desfrutam de todas as modalidades de tratamento que a gente tem para oferecer no armamentário para essas condições".
Por meio da divulgação do problema, a SBU quer melhorar as condições de saúde da população brasileira. Averbeck informou que os sintomas de bexiga hiperativa são mais comuns e mais frequentes na população do Brasil do que a asma e o diabetes, que são doenças crônicas e bastante conhecidas. "A bexiga hiperativa é tão prevalente e tão frequente, ou até mais, que o diabetes", disse.
A campanha "Segura aí", de esclarecimento da incontinência urinária, é realizada pela SBU em parceria com o Instituto Lado a Lado pela Vida.